04 março, 2022

Sentidos

Esse texto também pode ser ouvido no Podcast Sentidos:

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Temos constantemente a sensação de que a vida ganha ou perde o seu sentido.

Mas, primeiro, vamos investigar a respeito do que é feito o sentido?

Há muitos sentidos. Dentre eles, tem o sentido que damos, por exemplo, às crenças, aos valores sociais, ao trabalho, a empreender, status, bens. Estes podem fazer sentido por um bom tempo, principalmente quando somos mais jovens e queremos reconhecimento na sociedade e/ou na família. Tem também os valores, os sentidos, que dão a estabilidade, as relações amorosas, a liberdade...

Ainda na adolescência, pode acontecer uma crise daquelas do tipo existencial, e aquilo que tinha sentido em se acordar de manhã, se esvai. Tudo vai ficando mais cinzento. Outras vezes, a crise começa num casamento ou no fim de um emprego, ou na meia idade, quando filhos saem de casa, ou até quando perdemos o nosso bichinho de estimação. Enfim, é quando vamos perdendo por meios afetivos, referenciais do “eu”. E é normalmente nesses momentos onde o chão some, que começamos a despertar para algo além dos cinco sentidos.

O ideal seria ter ajuda ou uma rede de apoio que reconheça as riquezas da tristeza, das crises, do tempo necessário à ampliação de significados através da profundidade. Através da reflexão, e do próprio tempo...

Dando acolhimento para aquilo ser "sentido", e não abstraído, não ocupado por entretenimento e diversão, ou outro meio de fuga. A partir do que possa ser concedido ser “sentido” sem julgamento, aquilo se transforma por si mesmo.

E essa transformação não é sobre dar sentido, porque aqui também podemos cair numa constante frustração. Mas, é ao sentido que possa ser de alguma forma, apenas, reconhecido, seja na sua manifestação visível ou não, sendo compreendido ou aceito. Mas para isso, vamos ter que olhar de novo, vamos ter que nos abrir para aquilo, vamos ter que deixar de lado as engessadas conclusões.

E há casos onde, querendo ou não, se dá também um novo sentido, pessoas que vão significar a perda através de outras vidas. É como se uma vida fosse então viver em outra, ou outras no caso de instituições, por exemplo. Tudo isso pode ser muito importante, mas se não houver o matrimônio entre céu e terra, do invisível com o visível, o subjetivo com o tangível, vamos de novo cair na sensação de perda de sentido.

Podemos também questionar que sentido tem certas coisas... como alguém viver debilitado ou com alzheimer até mais de 100 anos. Que sentido tem uma criança morrer? Qual o sentido da fome e da miséria? Qual o sentido de se fazer X coisa... e por aí vai...

Tem uma gama questionável que é bem importante para soluções e mudanças de visões. Foi provavelmente através das perguntas que muito do que existe no nosso planeta foi inventado e desenvolvido, e que culturas se transformaram.

Mas, tem outra gama que não tem nenhum sentido, segundo à nossa limitada compreensão.

Tudo pode desaparecer dos nossos olhos ou ter mudado a sua aparência, o seu sentido. A dor do rompimento que sentimos são a dos fios invisíveis nos ligando a pessoas, aos animais e até mesmo com objetos que gostamos muito, ou a um trabalho, uma casa. Porque tudo é sempre conexão. E não é porque se rompeu exatamente, mas é a ligação com nosso senso de “eu” que parece perdida, como quem perde uma parte de si mesmo. Porém os fios continuam nos conectando, é só a nossa percepção limitada dentro do ego que se imagina desconectada.

A alma sempre pede por equilíbrio. A vida da alma pode não significar nada aos olhos dos moldes sociais descritos por felicidade. Muito além do que achamos que devia ou não devia ser, a alma serve ao Todo, cumprindo seu próprio Sentido.

Ver algo ou sentir a vida sem sentido, é um ponto fundamental para o questionamento, para perceber que o sentido único da vida é viver. E que viver envolve sentir, sentir todos esses fios invisíveis de conexão com tudo, e que vão também sendo tecidos pela nossa mente e pelo nosso coração.

E que amor, compaixão e sabedoria é o que mensura a qualidade desses elos, trazendo para a vida a experiência com o sagrado.

 


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