Esse texto também pode ser ouvido no Podcast Sentidos:
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Temos constantemente a sensação de que a vida ganha ou perde o seu sentido.
Mas, primeiro, vamos investigar a respeito do que é feito o sentido?
Há muitos sentidos. Dentre eles, tem o sentido que damos, por exemplo,
às crenças, aos valores sociais, ao trabalho, a empreender, status, bens. Estes
podem fazer sentido por um bom tempo, principalmente quando somos mais jovens e
queremos reconhecimento na sociedade e/ou na família. Tem também os valores, os
sentidos, que dão a estabilidade, as relações amorosas, a liberdade...
Ainda na adolescência, pode acontecer uma crise daquelas do tipo
existencial, e aquilo que tinha sentido em se acordar de manhã, se esvai. Tudo
vai ficando mais cinzento. Outras vezes, a crise começa num casamento ou no fim
de um emprego, ou na meia idade, quando filhos saem de casa, ou até quando
perdemos o nosso bichinho de estimação. Enfim, é quando vamos perdendo por meios
afetivos, referenciais do “eu”. E é normalmente nesses momentos onde o chão
some, que começamos a despertar para algo além dos cinco sentidos.
O ideal seria ter ajuda ou uma rede de apoio que reconheça as riquezas
da tristeza, das crises, do tempo necessário à ampliação de significados através
da profundidade. Através da reflexão, e do próprio tempo...
Dando acolhimento para aquilo ser "sentido", e não abstraído,
não ocupado por entretenimento e diversão, ou outro meio de fuga. A partir do
que possa ser concedido ser “sentido” sem julgamento, aquilo se transforma por
si mesmo.
E essa transformação não é sobre dar sentido, porque aqui também podemos
cair numa constante frustração. Mas, é ao sentido que possa ser de alguma
forma, apenas, reconhecido, seja na sua manifestação visível ou não, sendo compreendido
ou aceito. Mas para isso, vamos ter que olhar de novo, vamos ter que nos abrir
para aquilo, vamos ter que deixar de lado as engessadas conclusões.
E há casos onde, querendo ou não, se dá também um novo sentido, pessoas
que vão significar a perda através de outras vidas. É como se uma vida fosse
então viver em outra, ou outras no caso de instituições, por exemplo. Tudo isso
pode ser muito importante, mas se não houver o matrimônio entre céu e terra, do
invisível com o visível, o subjetivo com o tangível, vamos de novo cair na sensação
de perda de sentido.
Podemos também questionar que sentido tem certas coisas... como alguém
viver debilitado ou com alzheimer até mais de 100 anos. Que sentido tem uma
criança morrer? Qual o sentido da fome e da miséria? Qual o sentido de se fazer
X coisa... e por aí vai...
Tem uma gama questionável que é bem importante para soluções e mudanças
de visões. Foi provavelmente através das perguntas que muito do que existe no
nosso planeta foi inventado e desenvolvido, e que culturas se transformaram.
Mas, tem outra gama que não tem nenhum sentido, segundo à nossa limitada
compreensão.
Tudo pode desaparecer dos nossos olhos ou ter mudado a sua aparência, o
seu sentido. A dor do rompimento que sentimos são a dos fios invisíveis nos
ligando a pessoas, aos animais e até mesmo com objetos que gostamos muito, ou a
um trabalho, uma casa. Porque tudo é sempre conexão. E não é porque se rompeu
exatamente, mas é a ligação com nosso senso de “eu” que parece perdida, como
quem perde uma parte de si mesmo. Porém os fios continuam nos conectando, é só a
nossa percepção limitada dentro do ego que se imagina desconectada.
A alma sempre pede por equilíbrio. A vida da alma pode não significar
nada aos olhos dos moldes sociais descritos por felicidade. Muito além do que
achamos que devia ou não devia ser, a alma serve ao Todo, cumprindo seu próprio
Sentido.
Ver algo ou sentir a vida sem sentido, é um ponto fundamental para o
questionamento, para perceber que o sentido único da vida é viver. E que viver
envolve sentir, sentir todos esses fios invisíveis de conexão com tudo, e que vão
também sendo tecidos pela nossa mente e pelo nosso coração.
E que amor, compaixão e sabedoria é o que mensura a qualidade desses
elos, trazendo para a vida a experiência com o sagrado.
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